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TERCEIRO SETOR & SUSTENTABILIDADE
Contribuições de Ferramentas de Gestão do Conhecimento Aplicadas à Sustentabilidade Autor: Fabiano Sannino
Após a publicação do Relatório Brundtland (WCED, 1987), os termos "sustentabilidade" e "desenvolvimento sustentável" foram definidos, interpretados e praticados de diversas maneiras nos sentidos epistemológico e ideológico (Pezzey, 1992; Giddings et al., 2002; Faber et al., 2005; Sneddona et al., 2006). Além da abordagem tripartida de desenvolvimento sustentável, isto é, as dimensões: sociais, ambientais e econômicas, os debates sociais e econômicos também levantaram questões importantes sobre ética, direitos humanos e liberdades individuais (Giddings et al., 2002; Sneddona et al., 2006). O desenvolvimento sustentável representa uma nova visão de desenvolvimento macroeconômico que influencia diretrizes políticas e econômicas de governos, sociedades, mercados e organizações em geral (Sneddona et al., 2006; Sartorius, 2006). Também gerou novos campos interdisciplinares, teorias, técnicas, profissões, negócios, inovações, movimentos sociais e ambientais (Brunnermeier, Cohen, 2003; Faber et al., 2005; Sneddona et al., 2006; Sartorius, 2006). Por exemplo, atualizaram-se e desenvolveram-se conceitos, teorias e práticas adaptados ao contexto organizacional, tais como sustentabilidade corporativa, responsabilidade social corporativa, teoria de stakeholder e teoria de responsabilidade corporativa (Wilson, 2003; Steurer et al., 2005; Montiel, 2008). Nas décadas de 1990 e 2000, observou-se uma transformação socio-econômica de base industrial para de conhecimento. Dessa forma, a sociedade do conhecimento organiza-se em comunidades intensivas, que considera o conhecimento como valor econômico (David, Foray, 2002; Malone, Yohe, 2002). Nesse contexto socioeconômico, pesquisadores elaboraram proposições de desenvolvimento baseadas em conhecimento que são uma expansão da agenda de gestão do conhecimento (Laszlo, Laszo, 2007). Entre elas citamos: 1) a prosperidade econômica (Lever, 2002), 2) o desenvolvimento humano (Gonzalez et al., 2005) e 3) a contribuição para uma sociedade sustentável ambientalmente e socialmente (Laszlo, Laszo, 2007). O conjunto destas três proposições forma "um meta-campo que procura gerir o melhor aproveitamento dos variados conhecimentos humanos (de todas as disciplinas científicas e tradições culturais) para gerenciar sistemas de atividade humana, que tem um forte propósito por tipos de resultados promovidos por iniciativas de desenvolvimento" (LASZLO, LASZO, 2007, p. 497). Na mesma direção de Laszlo e Laszo (2002), Malone e Yohe (2002) propuseram estratégias centradas no ser humano e baseadas no conhecimento para a sustentabilidade a partir de parcerias entre a) ciência, tecnologia, humanidades, profissões liberais, b) setores sociais e c) nações industriais e em desenvolvimento. Essas parcerias estariam focadas em 8 áreas importantes e emergenciais: 1) educação; 2) exploração de fontes de energia benigna ambientalmente; 3) eco-eficiência na produção e consumo de bens e serviços; 4) saúde e resiliência de ecossistemas naturais; 5) extensão de contas de renda nacional para incluir os impactos ambientais e para ser coerente com outras medidas de saúde social; 6) redes de comunidades locais; 7) direito de propriedade intelectual; e 8) assistência de cuidado à saúde. Em uma visão de mundo centrada no conhecimento, Choudhury e Korvin (2001) afirmam que a sustentabilidade é como um processo contínuo de indução de conhecimento em todos os sistemas humanos em geral, constituídos de sentido ético e moral. Isto é, a sustentabilidade conduz fluxos de conhecimento em sistemas humanos de maneira que as interações realizem compartilhamento de conhecimento e de informação entre os mundos físico e humano (Choudhury, Korvin, 2001). Dessa forma, a gestão do conhecimento tem o papel de "apoiar, fomentar e promover os processos e interações sociais nas quais o conhecimento é inerente" (Wetherill et al., 2007, p. 80). Dada a relevância da relação entre gestão de conhecimento e sustentabilidade, o presente artigo tem como objetivo levantar as contribuições das ferramentas de gestão de conhecimento aplicadas à sustentabilidade, baseada em estudos tecnológicos. A importância deste objetivo é descobrir os avanços e os desafios encontrados nas pesquisas tecnológicas sobre gestão de conhecimento para sustentabilidade. A pesquisa utiliza a metodologia de revisão sistemática de literatura para coletar, selecionar e analisar os estudos tecnológicos, de maneira transparente, explícita e científica. O estudo está organizado em três seções: a primeira descreve a metodologia de revisão sistemática e a etapa de coleta de dados, a segunda mostra os resultados com a análise descritiva dos artigos selecionados, e o artigo finaliza com uma discussão sobre as contribuições e limites da revisão sistemática, a conexão entre gestão e engenharia do conhecimento, e as implicações gerenciais. 2 Metodologia
3 Resultados Os 11 artigos tecnológicos encontrados na pesquisa de revisão sistemática têm como principal objetivo propor soluções tecnológicas para a gestão do conhecimento com visão à sustentabilidade e atender às lacunas identificadas na situação do problema. As soluções tecnológicas compõem-se de ferramentas de gestão do conhecimento, que “dão suporte ao desempenho de aplicações, atividades ou ações tais como geração de conhecimento, codificação de conhecimento ou transferência de conhecimento. Elas também promovem e permitem que o processo de conhecimento melhore a tomada de decisão” (Ruggles, 1997, apud Tyndale, 2002, p. 183). Tyndale (2002) classificou as ferramentas de gestão de conhecimento em dez tipos: intranets, portais web, gestão de conteúdo, document management systems, information retrieval engines, relational and object databases, sistemas de publicação eletrônica, sistemas de groupware e workflow, push technologies e intelligent software agents. Para análise dos artigos tecnológicos, a tabela 1 mostra resumidamente a área de aplicação, a situação do problema e a proposta de solução.
Quadro 1 – Principais aspectos da situação do problema e das soluções propostas nos artigos tecnológicos. O desenvolvimento de uma solução tecnológica começa com um diagnóstico sobre a situação do problema. Existem várias estratégias de como fazê-lo, por exemplo, Ugwu (2005) realizou uma pesquisa empírica e Wetherill et al. (2007) usaram os elementos de soft system methodology (SSM) para capturar e modelar as questões socio-organizacionais que surgiram nas entrevistas com parceiros industriais. Alguns artigos descrevem uma parte do desenvolvimento de um artefato tecnológico e outros integralmente, construindo sistemas de gestão de conhecimento, protótipo e testes em estudo de caso. De acordo Alavi e Leidner (2001), os sistemas de gestão de conhecimento são sistemas baseados em tecnologia de informação desenvolvidos para suportar e aumentar processos organizacionais de criação, armazenamento, recuperação, transferência e aplicação de conhecimento, que também fazem parte das ferramentas de gestão do conhecimento (Tyndale, 2002). Entretanto, em nossa pesquisa encontramos ferramentas de gestão de conhecimento não somente para organizações, mas também para sociedade ou comunidade, por exemplo, para uma cidade (El-Diraby et al., 2005) ou uma região (Muresan, 2009). Em síntese, destacam-se, a seguir, as principais características das propostas de soluções de gestão de conhecimento para sustentabilidade:
Em relação à aplicação, as ferramentas de gestão do conhecimento para a sustentabilidade são desenvolvidas para:
No geral, os estudos tecnológicos com suas propostas de soluções tecnológicas apresentam uma realidade mais tangível e concreta sobre a aplicação da gestão do conhecimento para sustentabilidade, desenvolvendo soluções práticas nos ambientes organizacional e social. No entanto, essas soluções também são avaliadas por seus usuários e precisam ser continuamente atualizadas e, às vezes, até descartadas, para criar novas propostas que abracem mais qualidade de desempenho e que sejam mais úteis e eficazes para o fim que se destinam. 5 Discussão A pesquisa de revisão sistemática possibilitou a realização de uma revisão de literatura de acordo como rigor científico e respondeu à pergunta de pesquisa proposta. Levantamos as principais contribuições das ferramentas de gestão do conhecimento para a sustentabilidade encontradas nos estudos tecnológicos. A sua análise ajudou na compreensão da gestão de conhecimento para sustentabilidade do ponto de vista prático, com a aplicação de estratégias de abordagem da situação problema, identificando lacunas e oportunidades de melhoria de gestão. Apontado por alguns teóricos (Giddings et al., 2002; Sneddona et al., 2006), a necessidade de uma abordagem pluralista, interdisciplinar e até transdisciplinar para a gestão da sustentabilidade é considerada na maioria dos estudos tecnológicos. Percebe-se também uma tendência para pesquisas baseadas nos paradigmas interpretativista e funcionalista (Morgan, 1980). Nesses termos, a gestão do conhecimento tem uma perspectiva pragmática, organizada e concreta de sociedade, conhecimentos, processos e ferramentas, mas sem deixar de lado a questão da subjetividade social, a compreensão e a interpretação de fenômenos do ponto de vista dos participantes. A revisão sistemática revelou muitos pontos de conexão entre a gestão e a engenharia do conhecimento, especialmente no desenvolvimento de propostas de soluções tecnológicas usando ferramentas de gestão de conhecimento. 1) não incluímos artigos de congresso ou de eventos e livros que poderiam ter sido selecionados para a revisão de literatura; 2) apesar de usar dois bancos de dados, outros estudos poderiam ficar excluídos na pesquisa; 3) não usamos os processos de conhecimento (criação, transferência, compartilhamento, armazenamento, recuperação e aplicação de conhecimento) como palavras-chave de busca, isso pode ter omitido outro grupo de estudos de interesse da pesquisa. Entretanto, o processo rigoroso da revisão sistemática e o uso de duas bases de dados reduziu o risco de chegar a respostas inconsistentes e equivocadas. Assim, o levantamento das principais contribuições das ferramentas de gestão do conhecimento para sustentabilidade pode estimular ainda mais o desenvolvimento de pesquisas na área, como também sua aplicação na sociedade do conhecimento, para avanço no processo de sustentabilidade global. Referências Alavi, M., Leidner, D. E., 2001. Review: Knowledge management and knowledge management systems: conceptual foundations and research issues. MIS Quartely, 25 (1), 107-136. Boddy, S., Rezgui, Y., Wetherill, M. and Cooper, G., 2007. Knowledge informed decision making in the building lifecycle: An application to the design of a water drainage system. Automation in Construction, 16(5), 596-606. Brunnermeier, S. B., Cohen, M. A., 2003. Determinants of environmental innovation in US manufacturing industries. Journal of Environmental Economics and Management, 45(2), 278–293. Choudhury, M.A., Korvin, G., 2001. Sustainability in knowledge-centered socio-scientific systems. International Journal of Sustainability in Higher Education, 2(3), 257-266. David, P. A., Foray, D. ,2002. An introduction to the economy of the knowledge society. International Social Science Journal, 54(171), 5-9. El-Diraby, T. E., Abdulhai, B., Pramod, K. C. ,2005. The application of knowledge management to support the sustainable analysis of urban transportation infrastructure. Canadian Journal of Civil Engineering, 32(1), 58-71. Faber, N.; Jorna, R. and Van Engelen, J. ,2005. The sustainability of “sustainability” — a study into the conceptual foundations of the notion of “sustainability”. Journal of Environmental Assessment Policy and Management, 7(1), 1-33. Gonzalez, M. R., Alvarado, J.A. and Martinez, S. D. ,2005. A compilation of resources on knowledge cities and knowledge-based development. Journal of Knowledge Management, 8(5), 107–127. Giddings, B., Hopwood, B., O’Brien, G. ,2002. Environment, economy and society: Fitting them together into sustainable development. Sustainable Development, 10(4), 187-196. Jianjun, Y., Baiyang, J., Bin, Y., Lei, D. and Jinxiang D. ,2008. Research on the knowledge management architecture of LCED based ontologies and multi-agent system. International Journal of Advanced Manufacturing Technology, 37(5-6), 605-612. Laszlo, K. C., Laszlo, A. ,2007. Fostering a sustainable learning society through knowledge-based development. Systems Research and Behavioral Science, 24(5), 493-503. Lever, W. F. ,2002. Correlating the knowledge-base of cities with economic growth. Urban Studies, 39(5–6), 859–870. Malone, T.F., Yohe, G.W. (2002). Knowledge partnerships for a sustainable, equitable and stable society. Journal of Knowledge Management, 6(4), 368-78. Montiel, I. , 2008. Corporate social responsibility and corporate sustainability: Separate pasts, common futures. Organization & Environment, 21(3), 245-269. Moore, J., 2009. Briefing: New online marine aggregates research database. 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