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MAIO 2008

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ENTREVISTA

Peter Pfeiffer, PhD, PMP, formado em Sociologia de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, foi professor em várias universidades da Alemanha e da América Latina.
Desempenhou atividade de consultor de diversos organismos internacionais de desenvolvimento (Banco Mundial, União Européia, KfW e GTZ) na América Latina e África. Atualmente, é perito da GTZ (Cooperação Técnica Alemã) responsável pelas áreas de Gerenciamento de Projetos e Desenvolvimento Organizacional no Programa Energia e Meio Ambiente.
É autor dos livros “Gerenciamento de Projetos de Desenvolvimento” – Conceitos, Instrumentos e Aplicações e “Facilitação de Projetos” – Conceitos e técnicas para alavancar equipes.
Peter considera que o Gerenciamento de Projetos é uma área fascinante, sendo um meio e não uma finalidade em si. Recomenda aos jovens a exploração de outras áreas de interesse e atuação onde o GP pode ser aplicado.

É com grande prazer que nesta edição estamos recebendo a participação de Peter Pfeiffer.

  1. Bem vindo Peter. Fique a vontade para responder nossas perguntas e ampliar o assunto caso acredite que seja interessante para a comunidade. Você é alemão. Por que escolheu o Brasil como sua segunda "casa"? Você acredita que o país tem potencial na área de GP?
    Eu me formei em Sociologia de Desenvolvimento e por isso vim trabalhando em e sobre países em desenvolvimento há muito tempo. Depois de passagens na Ásia e África, em 1982 fiz uma pesquisa para a minha tese sobre as favelas no Rio de Janeiro. Desde então vinha ao Brasil com certa freqüência, até me tornar professor visitante na Universidade Federal Fluminense em 1994. Capacitei alunos e professores em Gerenciamento de Projetos para intervenções urbanas. Na época, não era comum entender GP como uma disciplina. Era mais comum as pessoas se “virarem” de uma forma ou outra para dar conta dos projetos que tinham.

  2. Quais suas principais atividades na área de GP antes de vir ao Brasil?
    A minha formação levou-me diretamente ao campo da cooperação internacional para o desenvolvimento e a forma típica desta cooperação é o projeto ou programa. Nos anos 80, todas as organizações de cooperação ficaram cada vez mais preocupadas com a eficiência dos seus projetos que, por natureza, se encontravam em contextos extremamente complexos e não raras vezes adversos. A Cooperação Técnica Alemã (GTZ) foi pioneira na elaboração de uma metodologia específica para este tipo de projeto conhecida como método ZOPP. Logo me capacitei na utilização desta metodologia e a apliquei como consultor ou facilitador em vários países da Ásia, África e na América Latina em projetos e programas de cooperação internacional.

  3. Quais experiências da sua trajetória profissional foram determinantes para a concepção do método "Gerenciamento de Projetos de Desenvolvimento"?
    Na prática ao longo dos anos eu vi que o método ZOPP é uma abordagem extremamente útil, mas ao mesmo tempo comecei a perceber as suas limitações. Achei que estava faltando algo. Quando me defrontei com o PMBOK em 1997, enxerguei uma abordagem diferente e muito interessante. Por outro lado vi que, devido à sua origem do setor privado e de projetos técnicos e comerciais, o PMBOK também não serviria completamente para o setor público. Foi daí que surgiu a idéia de vincular as duas abordagens de tal forma que se complementassem e servissem para a aplicação em projetos sem fins lucrativos e voltados para o desenvolvimento social.

  4. Em declarações anteriores você sugeriu que GPD estaria voltado principalmente para o setor público e projetos não-comerciais. Qual a principal diferença comparada ao cenário empresarial privado?
    As diferenças são muitas sendo algumas delas fundamentais. Se formos destacar apenas uma, seria a gestão das organizações. Começando pela influência política, cuja lógica nem sempre é compatível com a racionalidade de um projeto. As estruturas e processos burocráticos predominantes tendem a sufocar a flexibilidade e agilidade necessária para um bom gerenciamento. Estes fatores são ainda mais importantes quando observamos a complexidade do conjunto dos stakeholders, seus interesses e prioridades muitas vezes conflitantes.
    Outro aspecto importante é que projetos de desenvolvimento não podem ser considerados bem sucedidos somente quando os “deliverables” forem entregues, senão quando estes produtos ou serviços forem efetivamente utilizados e incorporados pelos beneficiários, o que sempre requer mudança de hábitos e comportamentos. Daí resulta outro desafio: a entrega de uma determinada infra-estrutura é relativamente fácil, mas fazer com que ela seja utilizada adequadamente tende a demorar muito mais. O descompasso faz com que muitos projetos não cheguem perto do que foi intencionado.
    Já com projetos comerciais no setor privado é diferente. Se o projeto e os seus “deliverables” forem entregues dentro do prazo, orçamento e escopo, o cliente faz com aquilo o que bem entender.

  5. Sendo formado em Sociologia, quais influências ou preferências para a abordagem do gerenciamento de projetos o levaram até a certificação PMP?
    Para mim, a certificação teve principalmente a função de parar por um tempo, voltar a estudar e refletir sobre o que já tinha feito na prática. Como na época ainda não tinha programas para simular a prova, todo o processo de aprendizagem era muito mais “artesanal”, mais demorado e talvez mais profundo. Pelo menos eu aproveitei o momento para me atualizar. A certificação como título era secundário para mim.

  6. Em seu trabalho podemos visualizar o conceito de Quadro Lógico, quais são suas principais características?
    O Quadro Lógico (QL) é o instrumento central do método ZOPP. Trata-se de uma matriz que é uma espécie de mapa estratégico do projeto. Quando preenchido corretamente, o QL não apenas visualiza o que terá sido feito ao final do projeto, mas gera uma visão do futuro que mostra os efeitos da intervenção e os seus impactos esperados.
    Além da estratégia, o QL também inclui indicadores e fontes de comprovação dos indicadores para que os objetivos e resultados possam ser aferidos. E, por fim, são incluídas suposições importantes que possam constituir riscos ao alcance dos objetivos e que devem ser considerados e monitorados.
    A matriz em si e a sua lógica parecem fáceis e plausíveis no início, mas na prática, o seu processo de preenchimento é relativamente complexo, porque requer muita reflexão e ponderação até que todos os seus elementos estejam coerentes. Em compensação, quando este processo é feito coletivamente pelos principais stakeholders e com apoio de uma facilitação profissional, a base de entendimento é bastante sólida e o risco de futuros conflitos é diminuído.
    O QL é o principal instrumento para a concepção de projetos e programas de cooperação internacional, mas muitas instituições públicas brasileiras também já o adotaram. Além disso, ele serve perfeitamente para projetos do Terceiro Setor, que têm uma lógica semelhante nos seus empreendimentos sem fins lucrativos.

  7. Qual você considera ser a vantagem da utilização do enfoque do Quadro Lógico (QL) e como se complementa com o planejamento do enfoque do PMI?
    A clareza da estratégia e do escopo global que gera do projeto. Ele obriga os planejadores a pensar: Aonde o projeto quer chegar? Quais as mudanças que devem ocorrer nos beneficiários? Qual a contribuição do projeto para o desenvolvimento?
    O QL é um instrumento para desenhar a estratégia de um projeto, não a operacionalização. Para isso existem outros instrumentos, começando com a WBS. O interessante é que estes dois instrumentos se complementam perfeitamente. O QL define os principais deliverables, que podem ser usados como primeiro nível numa WBS. A partir daí o escopo global do QL é detalhado usando a decomposição segundo WBS e assim garantindo que todos os demais deliverables façam parte da estratégia do projeto.
    Outros aspectos importantes onde o enfoque PMI contribui para um planejamento mais completo e consistente são o da organização e da comunicação.

  8. Quais são as principais técnicas de facilitação? Você poderia explicar o conceito Facilitação?
    O conceito corresponde ao significado da palavra facilitar: tornar ou fazer algo mais fácil.
    O principal propósito da facilitação é melhorar a comunicação, e aqui falamos da comunicação direta, presencial (“face-to-face”). São levadas em consideração duas dimensões: a “técnica”, ou seja, aquela que diz respeito ao trabalho e o seu conteúdo, e a humana, que diz respeito às pessoas, as suas características, comportamentos, pensamentos e sentimentos que geralmente não são visíveis, mas isso não quer dizer que não estejam presentes ou não possam influenciar.
    Para melhorar o processo de comunicação, fazer com que os membros de uma equipe entendam melhor o projeto como um todo e os seus respectivos papéis, e ao mesmo tempo estabeleçam relações de confiança, a Facilitação usa técnicas de visualização. O propósito é tornar discussões mais objetivas, aumentar o grau de entendimento comum e potencializar as diferenças positivas e diminuir as diferenças nocivas.

  9. Em sua opinião, quais as principais habilidades de um facilitador para projetos globais?
    Em projetos globais, facilitação pode ter um papel fundamental para construir pontes entre diferenças culturais. Se as diferenças entre os membros de uma equipe de um mesmo contexto cultural já são significativas, em contextos culturais diferentes o desafio para estabelecer uma comunicação eficiente é ainda muito maior. Daí, as habilidades típicas do facilitador de saber lidar com pessoas, questões técnicas relativas ao conteúdo e pressão de tempo, se acrescentam a necessidade de demonstrar sensibilidade cultural e a dominar uma linguagem adequada.
    Neste caso, a preparação de um evento facilitado, que já é fundamental para o seu êxito, terá quer ser ainda mais cuidadosa.

  10. Para finalizarmos, sendo um profissional experiente em GP, você daria alguma dica, algum conselho para os jovens que estão querendo ingressar nos estudos desta área?
    Estou há mais de 20 anos envolvido com Gerenciamento de Projetos e continuo achando uma área fascinante. Mas é importante entender que GP é um meio e não uma finalidade em si. Por isso, recomendo que os jovens tentem descobrir também outras áreas de interesse e atuação, onde ele pode ser aplicado. Seja área técnica ou social, se tratando de organizações públicas, privadas ou sem fins lucrativos, em todas elas há demanda.

Muito obrigado pela entrevista, continuaremos acompanhando seu trabalho e esperando novidades.

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