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AGOSTO 2008

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ARTIGO

Sunk Cost ou Custo Afundado

Por definição, sunk cost ou custo afundado é o custo incorrido e que não pode ser recuperado.

Por exemplo, suponha que você tenha comprado antecipadamente uma entrada para o teatro. O preço do bilhete passa a ser o sunk cost. Mesmo que na última hora você decida que não quer mais ir ao teatro não há maneira de recuperar o dinheiro de volta. Para os economistas, o sunk cost não deveria ser levado em conta na decisão de ir ou não assistir a peça. Há nesse caso duas escolhas possíveis: Ter pago o bilhete e assistir a uma peça que não quer ou ter pago o bilhete e fazer qualquer outra coisa que mais lhe agrade. Como na segunda opção a perda é apenas monetária (valor do bilhete) e na primeira opção além da perda monetária há a perda de tempo por assistir a uma peça que não quer, a decisão racional seria a segunda opção.

Caso você opte por assistir à peça em função do valor pago pelo bilhete então você estará “honrando o sunk cost”. A maioria das pessoas costuma dar algum peso ao custo afundado nas decisões. Na área econômica ou de negócios, a tendência de se honrar o custo afundado é tratada como “Falácia do sunk cost”.

Um atributo que caracteriza o sunk cost é o excesso de otimismo na análise de probabilidade. Em um experimento clássico de sunk cost, foi realizada uma pesquisa com apostadores de cavalos. As pessoas que tinham acabado de apostar em um animal tinham uma confiança maior na sua aposta dos que ainda não haviam apostado¹. A aposta representa o custo afundado. Uma vez realizado a tendência de se superestimar a probabilidade de sucesso em relação ao investimento é maior do que quando o investimento ainda não foi feito.

É importante notar que decisões racionais podem ser tomadas visando atender a interesses próprios e não aos interesses de uma corporação ou grupo. Essas decisões podem ser bem diferentes das que seriam tomadas visando apenas eficiência e lucratividade.

Em projetos, um exemplo de sunk cost pode ser o investimento em uma nova usina hidroelétrica. Suponha que $30 milhões já tenham sido gastos. O valor do empreendimento nesse momento é zero pois a usina está incompleta e ninguém a “compraria” nesse estágio. Digamos que a usina pode ser terminada por mais $20 milhões ou simplesmente abandonada e uma nova usina termoelétrica implantada por $10 milhões. Parece óbvio que em uma decisão racional, abandonar a hidroelétrica e implantar a termoelétrica é o melhor a fazer, mesmo que isso represente uma perda total do investimento já realizado.

Se os responsáveis por tomar essa decisão forem economicamente irracionais ou tiverem interesses “errados”, talvez optem por finalizar a obra original. Por exemplo, políticos ou administradores podem ter mais interesse em evitar a aparência de uma perda total do investimento já realizado. A isso damos o nome de “Aversão à Perda”.

De um modo geral as pessoas continuam colocando recursos em projetos já iniciados por causa do medo de serem tachados de esbanjadores caso optem por abandonar projetos que já tenha recebido pesados investimentos². Pesquisas revelam que “Falácia do Sunk Cost” ou “Aversão à perda” são comuns e portanto a racionalidade econômica é limitada. Isso trás enormes implicações para finanças, economia e gestão de projetos³.

Não podemos confundir sunk cost com perda econômica. Por exemplo: um carro pode ser comprado e vendido algum tempo depois. O preço de venda será com certeza menor do que o preço de compra. O preço de compra do veículo é o sunk cost. A perda econômica é a diferença entre o preço de compra e o de venda incluindo custos de transferência.

Para entender melhor esse raciocínio, imagine que você tenha comprado um carro novo por $50.000,00 e tenha gasto mais $500,00 em documentos (custo de transferência).

Depois de seis meses, insatisfeito com o veículo, você começa a cogitar a troca por outra marca e modelo que mais lhe agrade. Para isso você teria que vender o carro antigo que por não ser mais um zero quilometro passa a ter seu preço ditado pelo mercado de usados, digamos em torno de $45.000,00. O carro que você cobiça custa na concessionária $55.000,00 mais outros $550,00 em documentos.

Neste momento você para pra pensar no que já gastou na compra do carro antigo (dilema do Sunk Cost). Se você levar em consideração esse valor, mais os custos com documentação (custos de transferência) e ainda por cima a desvalorização de mercado, o carro novo sairia por inviáveis $61.050,00. Você honraria o sunk cost, desistiria da compra e continuaria insatisfeito com um carro que continua desvalorizando no mercado de usados? O investimento para a compra do outro seria cada vez maior. Deixando de lado o Sunk Cost e analisando o problema por uma perspectiva racional, o carro novo de seus sonhos só depende de um investimento de $10.550,00.

Bons Projetos.

Paulo Mei, MBA, PMP

paulomei@paulomei.com.br

Especialista em planejamento, gestão e controle de projetos, sempre aplicando as melhores práticas do PMI (Project Management Institute).
MBA pela FAAP e Certificado PMP (Project Manager Professional) pelo PMI.
Há dois anos ministra aulas de Gestão Prática de Projetos e Certificação PMP/CAPM em diversas entidades.

 

¹ Kox e Inkster, 1968 – Evidencias adicionais de estimativas probabilísticas inflacionadas podem ser encontradas em Arkes e Blumer, 1985 e Arkes e Hutzel, 2000.

² “The Psycology of Sunk Cost” Hal Arkes e Catherine Blumer (p. 132) - Daniel Kahneman – Prêmio Nobel em Economia.

³ Sunk Costs, Rationality, and Acting For the Sake of the Past - Thomas Kelly (University of Notre Dame).

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